CÉLULAS-TRONCO, UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL
Em português, dizemos células-tronco. Em espanhol, são chamadas de células-madre e, em inglês, ficaram conhecidas como stem-cells. O conceito, no entanto, é um só e foi descrito pela primeira vez por um cientista médico, Alexander Maximov, que anunciou sua descoberta em 1909, num congresso de Hematologia, realizado em Berlim.
Hoje, passados 103 anos, muitos cientistas revolucionários continuam a busca para encontrar meios de utilizar essas células, que têm o poder de gerar novas células no organismo. Procuram dar início a um novo ramo da medicina, chamada regenerativa.
Contudo, como se trata de uma ciência biológica que oferece poucas possibilidades de gerar patente para a indústria farmacêutica, a pesquisa caminha à velocidade de tartaruga. Se a indústria vislumbrasse a chance de transformar células-tronco em produto industrial, sem sombra de dúvida essa nova modalidade de medicina já seria uma realidade. Mais uma vez, porém, a ciência tem à frente inúmeras alternativas terapêuticas para centenas de enfermidades que afligem a humanidade e, mesmo assim, enfrenta imensa dificuldade em transformá-las em ciência médica aplicada.
UM BANCO E MUITAS DISCUSSÕES
Em 1988, a médica Elaine Glukman utilizou células-tronco de cordão umbilical para tratamento de doenças hematológicas. Até então, somente eram consideradas aproveitáveis aquelas retiradas da medula óssea. A partir daí, desenvolveu-se a ideia de um “banco” de cordão umbilical, que armazena crioproteção para futuras necessidades do bebê. Ninguém poderá garantir, no entanto, que essas células de cordão umbilical guardadas no “banco”, originalmente multipotentes e pluripotentes, sejam de fato úteis no futuro, em função dos procedimentos nem sempre adequados utilizados quando de sua coleta no momento do nascimento.
Já em relação a células-tronco originárias de embrião e fetos, a humanidade enfrenta intermináveis debates éticos e religiosos, que impedem o progresso da pesquisa. O médico James Thomson, da Universidade de Wisconsin, isolou em 2009 células-tronco de blastocistos de 5 dias de fecundação in vitro. A mídia entendeu que, para realizar o procedimento, era necessário destruir um embrião humano. Esse episódio foi um lamentável equívoco, complicando ainda mais o avanço da pesquisa de células-tronco.
A obtenção de blastocistos humano acontece diariamente no mundo, em todos os centro de reprodução assistida. Quem trabalha com reprodução humana, normalmente conta com vários óvulos fecundados. Somente um ovo é implantado no útero. Os demais são crioprotegidos ou descartados. O erro de interpretação, na realidade, é que não há necessidade de eliminar um embrião ou feto para continuar a pesquisa de célula tronco.
Quando se trata o assunto sob esse ângulo, todavia, impõe-se a pergunta: mas quando a vida se inicia? Na hora de fecundação ou quando surge o primeiro sopro, ao nascer. Ninguém sabe, com certeza. Temos, portanto, de respeitar a orientação dos teólogos, uma vez que vivemos em sociedade com multiplicidade de ideias. Dessa forma, todos têm uma parcela de verdade ou todos estão equivocados. O ideal, para o pleno desenvolvimento de uma civilização, seria a unificação da ciência com a religião.
PRÁTICO, RÁPIDO E JÁ COM RESULTADOS
Atualmente, para implante de células-tronco em adultos, utiliza-se a punção em medula óssea. Essa prática foi amplamente apoiada pelo cientistas teólogos do Vaticano e, conhecida como implante autólogo, conquistou inúmeros adeptos entre os cientistas, já sendo usada de forma ampla e rotineira no tratamento de câncer de linhagem hematopoética.
Em recente congresso médico, realizado em São Paulo e organizado pela A4M BRASIL, entidade cientifica que agrega médicos pesquisadores de técnicas antienvelhecimento e de medicina regenerativa, foi abordado e exaustivamente debatido o implante de células-tronco.
O consenso é de que, hoje, o implante autólogo de células-tronco, isto é, de si para si, não é mais considerado um procedimento difícil ou distante dos consultórios. Pode ser executado por meio de punção simples no osso esterno ou quadril, com prévia anestesia local. Posteriormente, as células-tronco são concentradas em laboratório e devolvidas ao paciente por via endovenosa.
As indicações de tratamento relacionam-se a diversas patologias denenerativas, tais como doença de Parkinson, doenças neurólogicas e autoimune, diabetes I e II, esclerodermia, doenças degenerativas pulmonares, lupus eritematoso, miastenia grave, esclerose múltipla, artrose, entre outras, com a obtenção de resultados promissores na maioria das enfermidades estudadas.
Assim caminha a ciência. Talvez poucos acreditem nas dificuldades dos cientistas verdadeiros, que, ao buscar aliviar a dor humana, têm necessidade de romper as barreiras impostas pelo “canetaço” dos burocratas.
TERAPIA CELULAR, MEDICINA DO PRESENTE: AVANÇOS NA AMERICA LATINA:
Quando se fala em doença, pensa-se logo em remédios, mas existem alternativas avançadas para cuidar da saúde, mesmo em casos graves. Este ano, tive a oportunidade de conhecer e acompanhar o médico venezuelano Carlos Cecílio Blatt, 70 anos. Ele está popularizando a terapia celular autóloga, uma prática médica avançadíssima. Para minha felicidade, participei ativamente de duas jornadas médicas, ao lado dele.
Levei comigo meus filhos Leonardo (endocrinologista) e Rafael (neurologista). Sem a ajuda da ciência, não se avança. Dr. Carlos é reconhecido por já ter realizado milhares de implantes com célula tronco em pacientes que sofrem de doenças degenerativas como lúpus, artrite reumatoide, mal de Parkinson, doenças neurológicas e sequelas de traumatismos. A técnica é indicada também para retinopatia, uma complicação de diabetes que causa a perda da visão, e doenças autoimunes em geral. Um avanço inegável da medicina.
Enquanto no Brasil a utilização de células-tronco ainda é encarada como medicina do futuro, na Venezuela, Dr. Carlos tornou-a uma prática comum e tem salvado muitas vidas. Dr. Carlos utiliza uma técnica simples e muito segura feita em adultos, que consiste na retirada e implante de células-tronco no mesmo paciente. Ele possui uma equipe e atende todos os pacientes em um laboratório ambulante.
Foto Dr. Carlos Cecílio Bratt retirando material da medula óssea para implante de células-tronco.
Como já dissemos anteriormente, o corpo é uma máquina perfeita. As células-tronco podem ser comparadas ao estepe de um carro. Não tem lógica rodar com um pneu furado se há outro de reserva que pode substituí-lo. Isso se aplica também ao corpo. Por que não utilizar as células de reserva em caso de emergência?
Faz-se necessário esclarecer que as células-tronco utilizada por dr. Carlos Cecílio nada tem a ver com aquelas obtidas a partir de embriões e que gerou e ainda gera polêmica e problemas de caráter ético-religioso. Ou ainda células-tronco heterólogas (retiradas de um adulto que não seja o receptor). Ambos os casos exigem laboratório sofisticado entre outros recursos.
Pela simplicidade, a terapia celular aplicada pelo dr, Carlos Cecílio não requer laboratório de biossegurança. Porém, as leis brasileiras que discorrem sobre o tema parecem elaboradas não para permitir a realização da técnica, mas para inviabilizá-la. No Brasil, esse procedimento ainda está em fase de pesquisas por meio da Rede Nacional de Terapia Celular, coordenada por profissionais ligados a politicagem da saúde e da medicina.
Autor: Dr. Tsutomu Higashi – médico diretor da Clínica Higashi
Foto do Congresso Brasileiro de Celulas- tronco e Terapia Celular 2011: Dr: Richard K. Burt (Northwestern University, Chicago, USA) e Dr. Tsutomu Higashi (Diretor Médico da Clínica Higashi e Centro Médico Athenas).
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