Os cuidados na alimentação frente à Operação da Polícia Federal em frigoríficos
A Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, provocou um rebuliço na mesa e na cabeça do brasileiro. É fato: precisamos manter em dia a fiscalização dos produtos, principalmente alimentares e perecíveis.
Essa fiscalização, porém, chegou à população de uma forma muito alarmante. Há confusões que trazem insegurança para os consumidores. Diversas informações foram divulgadas com imprecisões. É importante esclarecer os principais equívocos divulgados. Vamos lá:
– O acréscimo de substâncias para preservar os alimentos processados ou embutidos – como linguiça, salame e presunto – não é algo novo. Desde o início da industrialização dos alimentos, já são usadas substâncias como, nitratos, nitritos e ácido sórbico, entre outras. A intenção é manter o alimentos armazenados sem que haja contaminação por micro organismos. Mas uma carne in natura, ou seja, a carne fresca, não deve conter nenhuma substância para preserva-la, já que não é industrializada.
– É bom dizer que na carne processada, como no caso dos embutidos – salsicha, bacon, salame e mortadela, a utilização de substâncias conservantes é permitida, por lei. E está provado que o consumo excessivo dos embutidos é cancerígeno, mesmo recebendo nas quantidades de conservantes permitidas por lei. Repetindo: desde 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lista as carnes processadas como grupo 1 , ou seja, comprovadamente aumentam o risco de câncer. Nessa categoria está o cigarro, por exemplo. Se uma pessoa consome 50 gramas de carne processada por dia, está aumentando o risco de desenvolver câncer, principalmente o intestinal. Mais concretamente ainda: 50 gramas equivalem a aproximadamente 4 fatias de presunto ou apenas uma salsicha. O uso rotineiro de carne processada independentemente de conter níveis acima de aditivos é cancerígeno. Se são adicionados ainda mais aditivos, o risco cresce a longo prazo.
– Quando se mascara a carne in natura, aparece outra questão: a possibilidade de um quadro grave de gastroenterite aguda bacteriana, com diarreia, náusea, vômitos, febre e mal estar. Em um idoso ou alguém com saúde debilitada, a gastroenterite pode ocasionar um quadro sistêmico grave e, em alguns casos, até a morte. Até o momento não se tem notificação de surtos de gastroenterite aguda bacteriana pela contaminação da carne que circula no mercado. Pense só: se uma churrascaria servisse carne estragada, quantas pessoas passariam mal? É uma situação que não passaria desapercebida.
– A carne pode conter pequenas quantidades de micro organismos. O excesso é que a torna contaminada. Não é possível saber, com uma análise visual, se a carne está contaminada. Pode-se achar que escolher uma carne de boa qualidade seja avaliar o odor, a coloração; mas a detecção de micro organismos em excesso só é possível com testes laboratoriais. Quando a carne está estragada a ponto de se perceber visualmente, é porque seus níveis de contaminação por bactéria já ultrapassaram há muito tempo o limite permitido.
– Mais: mesmo a carne in natura pode ser cancerígena quando consumida em excesso. A recomendação da OMS é a de manter o consumo de carne em menos de 500g/semana; algo como incluir carne nas refeições somente três vezes por semana. Estudos indicam que, acima desse nível de consumo, há aumento na incidência de câncer gastrointestinal e pâncreas – possivelmente, pelo excesso de gordura saturada, entre outras substâncias que continuam em estudo como possíveis vilões.
Resumindo: o consumo de carne in natura e, principalmente, produtos industrializados de carne processada dever ser restrito, independentemente das informações divulgadas pela Operação Carne Fraca. Nesse momento de incerteza quanto à qualidade da carne de alguns frigoríficos, vale redobrar a atenção e evitar consumir carnes oriundas destas indústrias.
Em tempo: como médico nutrólogo, indico algumas alternativas vegetais de proteínas para substituir a carne vermelha e demais produtos contaminados como a soja, ervilha, grão de bico, quinoa e chia.
Sobre o Dr. Rafael Higashi
Mestre em Medicina (UFF), neurologista e nutrólogo com residência médica em neurologia pela UFRJ e nutrólogo com título de Membro titular da Associação Brasileira de Nutrologia e Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia. Tem especialidade no exterior em tratamento do envelhecimento pelo Cenegenics Medical Institute e tratamento da dor no Centro Médico da Universidade de Nova York. Atualmente é diretor médico da Clínica Higashi do Rio de Janeiro, http://clinicahigashi.com.br/ localizada em Botafogo. A Clínica Higashi também existe em Londrina há quase 50 anos, fundada por seu pai, Dr. Tsutomu Higashi.
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