A prevalência de dor crônica no mundo, quando estudada em diferentes países, varia entre 16% a 53%. No Brasil ela afeta 4 a cada 10 pessoas, segundo estudo publicado pela Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), em 2016.
A Dor crônica é aquela que, em geral, persiste por mais de três meses e atrapalha as atividades diárias mas, com o tratamento adequado ela pode ser controlada ou curada. Em parte significativa dos casos ela é resultante de uma dor aguda não tratada que, por uma disfunção neurológica, se torna crônica. Entretanto, em outros casos, ela pode ter início de forma lenta e incapacitante, mesmo sem história de trauma como no caso da Fibromialgia.
Podemos categorizar a dor crônica em dois grandes grupos: uma denominada maligna, quando a dor crônica advém de um processo neoplásico (cancerígeno) e outra denominada não maligna, que não têm origem em um processo neoplásico e inclui as doenças mais comuns no dia a dia, como: a fibromialgia, as dores de cabeça como a tensional e a enxaqueca, as lombalgias, as cervicalgias e as dores musculares denominadas de miofascial.
Diante da elevada prevalência da dor crônica não maligna, a mesma deveria ser elevada à categoria de prioridade entre as medidas de saúde publica, de tratamento e investimento em pesquisa.
Desde de 1996 existe um consenso interno na prática médica para reconhecer a dor como quinto sinal vital com o objetivo de ampliar a conscientização dos profissionais de saúde sobre a importância de seu tratamento. Isso significa que ela deveria ser avaliada com o mesmo zelo dos demais sinais vitais (temperatura, pulso, pressão arterial e frequência respiratória).
Na prática diária, quando a dor é intensa, o médico utiliza medicações analgésicas como os opiódes. Contudo, estudos recentes apontam uma epidemia provocada por seu uso abusivo que acarretam em consequências negativas. Por essa razão outras modalidades de tratamento da dor crônica devem ser usadas como complementares ou alternativas, visando o melhor controle da dor e menor uso de medicação.
A Estimulação Magnética Transcraniana Repetitiva (EMTr) é um tratamento médico neurológico não invasivo, aprovado no Brasil, desde 2012, para a depressão e alucinação auditiva da esquizofrênia. Contudo a sua eficácia tem demonstrado resultados que vão além destas duas patologias que tem como cérebro o local primário de disfunção. A dor crônica também tem como origem uma disfunção do sistema nervoso central chamado de sensibilização central. Por mecanismos genéticos algumas pessoas continuam registrando a dor a nível cerebral apesar do foco inicial da dor não existir. A EMTr consegue ativar áreas específicas do cérebro responsáveis pela analgesia, que na dor crônica não está funcionando da maneira correta.
O interesse pela EMTr no tratamento da dor crônica teve inicio em meados da década de 90. Foi quando o médico japonês Tsubokawa demonstrou, através de estudos, o alívio significante da dor crônica após implante cirúrgico de eletrodos no córtex motor do cérebro. Isso despertou o interesse de pesquisadores pelo uso da EMTr, que possibilita a estimulação do córtex motor sem a necessidade de cirurgia.
Evidências de vários trabalhos científicos demonstram que o uso da EMTr deve ser estendida também ao tratamento da dor crônica por ser eficaz e com efeitos colaterais insignificantes quando comparado a medicação (convencional). Em 2014 um grupo de especialistas europeus formaram uma comissão científica para avaliar a eficácia da EMTr em diferentes patologias. Concluíram, após análise de dezenas de estudos científicos sobre o assunto, que a EMTr tem eficácia definida (nível A de evidência) no tratamento da dor crônica. Este estudo foi publicado posteriormente na prestigiada revista internacional Clinical Neurophysiology.
Em 2017 o departamento de Anestesia do Hospital da Universidade da Pensilvania (EUA), publicou um novo estudo de meta-análise, concluindo que a EMTr melhora a eficácia do tratamento convencional da dor crônica e não foi associado a nenhum efeito adverso.
“Devemos alertar a sociedade para novas modalidade de tratamento não medicamentoso da dor crônica já que milhões de brasileiros sofrem desta patologia sem alivio ou sofrem dos efeitos colaterais indesejáveis de altas doses de medicações”, pondera o especialista.
Dr. Rafael Higashi. Mestre em medicina (UFF), neurologista e nutrólogo com residência médica em neurologia pela UFRJ e nutrólogo com título de Membro titular da Associação Brasileira de Nutrologia e Membro Titular da ABNEURO (Academia Brasileira de Neurologia). Tem especialidade no exterior em tratamento do envelhecimento pelo Cenegenics Medical Institute e tratamento da dor no Centro Médico da Universidade de Nova York (NYU Medical Center).
Esta matéria foi publicado no jornal do Brasil em 27/12/2017.
http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2017/12/27/estimulacao-magnetica-transcraniana-pode-ser-alternativa-a-remedio-para-dor-cronica/
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