A obesidade é uma doença crônica e de difícil tratamento, cuja prevalência vem aumentando e se tornando uma pandemia mundial. Estima- se que 1,6 bilhões de adultos estão acima do peso, 400 milhões estão obesos e que em 2015 estes números irão aumentar para 2,3 bilhões de pessoas com sobrepeso e 700 milhões com obesidade.
No Brasil 40 % da população esta acima do peso e, destes, 10 % são obesos, se tornado um grave problema de saúde devido ao aumento do risco de mortalidade e morbidade geralmente associado à hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doenças cardiovasculares e alguns tipos de cânceres.
A obesidade é resultado de múltiplas causas com exceção das obesidades monogênicas (menos de 1 %) onde um gene é responsável pela doença (ex: deficiência de leptina), entre as causas estão; uma alteração poligênica levando a uma desregulação no centro do apetite e da saciedade (local responsável também pelo gasto energético), alterando a relação entre acúmulo energético e gasto de calorias, e especialmente combinado com o sedentarismo, e aumento de ingestão de comidas hipercalóricas.
Estudos recentes têm mostrado que a flora intestinal tem um importante papel na obesidade, afetando o acúmulo de gordura e extração de calorias.
A flora intestinal comensal é responsável por varias funções, desde: processos metabólicos (fermentação, síntese de vitaminas, produção energética), estimulação tróficas (diferenciação epitelial celular, imunomodulaçao), e proteção contra patógenos (produção de bacteriocidinas). Alteração da flora bacteriana esta interligada a várias patologias, como síndrome do intestino irritável, fibromialgia, doenças autoimunes, atopias e agora obesidade.
FLORA INTESTINAL NORMAL
O intestino humano tem um número imenso de microrganismos que são chamados de microbiota. Esta comunidade é dominada por anaeróbios com cerca de 1000 espécies onde na coletividade dos genomas tem 100 vezes mais genes que o genoma humano. Todo o trato gastro intestinal(TGI) é colonizado porém o cólon em maior número 10 a 12 ufc/ml. Bacteriodes e firmicutes são 90 % de todos filotipos de bactérias, e mais de 90 % anaeróbios e entre as espécies predominantes estão: bacteriodes, eubactéria, bifidubacteria, fusobacterias, peptoestreptococus entre outras .
A flora intestinal desempenha um importante papel para funcionamento normal do intestino e manutenção da saúde do indivíduo.
Os benefícios sabidos da flora intestinal normal são: ajudar a digestão da celulose e estocar energia, formar uma barreira de defesa natural, que é essencial para desenvolvimento e maturação do sistema imunológico sistêmico e de mucosa. A microbiota intestinal é composta por bactérias potencialmente patogênicas ao lado de microrganismos não patogênicos e benéficos para saúde.
Apesar da pouco conhecimento da microbiota nativa intestinal, evidências sugerem que ela estabiliza no primeiro ano de vida. A flora fetal estéril é colonizada no momento que é exposto a flora vaginal da mãe, bactérias fecais materna, bactérias do meio ambiente, e a colonização continua no período perinatal pelo menos até os 2 anos antes de estabelecer um flora individual. Crianças nascidas de parto normal têm colonização antes pelas bifidosbacterias e lactobacilos (bactérias benéficas) do que as nascidas por cesárea em torno de 30 dias.
A flora intestinal muda drasticamente após o nascimento e a dieta é o fator principal da natureza e da sequência desta colonização. As bidobacterias e enterobacterias são as primeiras colonizadoras, mas a composição da flora intestinal muda conforme a alimentação, se feita de leite materno ou preparações prontas.
As bidobacterias são organismos primários que produzem grandes concentrações de lactato e acetato restringindo o crescimento de bactérias potencialmente patogênicas como a E. coli e clostridum perfringens. A transformação para microbiota adulta é influenciado por múltiplos fatores internos e externos, inclusive da própria flora e a alimentação para vida adulta.
Alguns estudos mostram diferenças da microflora com o envelhecimento. A principal diferença entre a microbiota de adultos e idosos é o aumento do número de enterobacterias e a menor população de anaeróbios na população idosa. As bifidobacterias que são protetoras para saúde têm um declínio dramático com o envelhecimento, além de ocorrer um aumento de bactérias patogênicas como o clostridium e enterobacterias.
A flora intestinal difere muito entre as populações e estudos sugerem que o genótipo é o fator mais importante desta diferença, mais até que a alimentação, estilo de vida e idade.
Estudos feitos com ratos germ-free (ausência de bactérias) mostraram que a microbiota intestinal é fundamental para saúde gastrointestinal, manutenção do sistema imune, digestão normal de nutrientes. Os animais germ-free são mais suscetíveis a infecções e tem menor vascularização, menos enzimas digestivas, parede muscular mais fina, produção de citoquina, mucosa linfonoidal, motilidade e níveis de imunoglobulinas.
Flora bacteriana nomal do trato gastro-intestinal:
FLORA INTESTINAL NA OBESIDADE
Evidências recentes mostram que trilhões de bactérias que normalmente residem na flora intestinal humana afetam a aquisição de nutrientes e a regulação energética. Além disso, os lipopolissacarídeos bacterianos da microbiota intestinal seriam um fator de gatilho relacionando inflamação e dieta rica em gordura induzindo a obesidade.
Backhed e colaboradores demonstraram que ratos germ free tem menos percentual de gordura, apesar de serem submetidos a mesma dieta. E seguindo o mesmo raciocínio mais tarde foi demonstrado que a colonização de flora bacteriana de ratos obesos em ratos germ free ocasionou um aumento significativo da porcentagem de gordura em comparação à colonização com a microbiota de ratos magros. Este estudo também mostrou que a flora microbiota distal de ratos obesos com deficiência de leptina (ob/ob) em comparação aos ratos magros, tinha maior proporção de espécies firmicutes e menor de bacteriodes. Estes cientistas evidenciaram que a flora intestinal dos ratos obesos era rica em genes que produzem enzimas capazes de quebrar polissacarídeos indigeríveis. Além disso, foram encontrados maiores produtos de fermentação e menos calorias nas fezes de ratos obesos, sugerindo que a microbiota intestinal destes ratos facilita a extração de calorias de alimentos não digeridos normalmente.Ley e colaboradores também demonstraram que a obesidade pode estar relacionada à alteração da microbiota intestinal em roedores.
Ratos obesos com deficiência de leptina têm 50 % menos de bacteriodes e 50 % mais de firmicutes em comparação aos ratos magros.O mesmo grupo de investigadores mostrou uma diminuição de bacteriodes na flora intestinal de humanos obesos em comparação aos indivíduos magros. Além disso, os obesos que perdiam peso e se mantinham por mais de um ano quase se igualavam a proporção de firmiculites dos indivíduos magros.
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